Evangelho Segundo João

É uma edição caseira do conteúdo, fidedigno, do Evangelho Segundo João,

pela tradução de João Ferreira de Almeida

 

 

 

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Introdução

 

A tradição atribui este Evangelho ao apóstolo João, filho de Zebedeu. O próprio se identifica como "o discípulo que Jesus amava" (13.23; 20.2; 21.7,20). Um autor antigo, Clemente de Alexandria, escreveu que o apóstolo João, já ancião, "...vendo que estas coisas corporais tinham sido narradas nos Evangelhos, redigiu, instado pelos discípulos e divinamente inspirado pelo Espírito, um evangelho espiritual..., para completar os sinópticos, acentuar a divindade da pessoa de Jesus, desafiar os leitores a entender, pela fé, mais alto (1.50-51) e levá-los a acreditar que "Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenham vida no seu nome" (20.31)".

O Evangelho Segundo João é muito diferente dos sinópticos. Exceptuando a narrativa da Paixão (18-19) os elementos comuns são muito poucos. Nos sinópticos Jesus prega o Reino de Deus (ou dos céus), utiliza o género literário das parábolas, realiza milagres, apresenta-se com toda a sua humanidade diante das pessoas simples e pobres, impõe o segrdo messiânico e, na segunda parte dos mesmo, instrui os seus discípulos sobre a sua paixão, morte e ressurreição. Neste nada disto acontece. Nem sequer a geografia condiz com a dos sinópticos, uma vez que Jesus passa a maior parte do seu tempo em Jerusalém e arredores. É o único que contém determinados episódios como as bodas de Caná (2.1-12) e o encontro de Jesus com Nicodemos (3.1-21), com a mulher samaritana (4.1-42), a cura do paralítico de Betesda (5.1-18), a do cego de nascença (9.1-41), a ressurreição de Lázaro (11.1-44), a ceia de despedida com o "sinal" do lavar dos pés (13.2-11), o discurso de despedida (14-17), e ainda muitos outros pequenos pormenores. É característica deste evangelista apresentar os episódios narrativos como sinais visíveis de uma doutrinação superior, em que Jesus se auto-revela como "Eu Sou": "Eu sou o pão que dá vida" (6.35,48); "Eu sou a luz do mundo" (8.12); "Eu sou a porta" (10.7,9); "Eu sou o bom pastor" (10.11,14); "Eu sou a ressurreição e a vida" (11.25); "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (14.6). Com sentido absoluto, isto é, sem nenhum predicativo ou complemento, aparece em 6.20 ("Sou Eu, não tenham medo!") e, sobretudo, em 18.5-6, onde os soldados caem por terra diante da santidade, majestade e divindade do EU SOU, paralelo ao nome divino (Êxodo 3.14).

Jesus é, portanto, identificado com o próprio Deus, uno com o Pai (8.58: "...antes de Abraão nascer, já eu era aquele que sou"; 10.30: "Eu e o Pai somos um só"; 14.9: "Aquele que me viu, viu também o Pai"; 20.28: "Meu Senhor e meu Deus!"). O mundo do Jesus revelado no Evangelho segundo João é o muindo do diálogo íntimo entre o Pai e o Filho. Basta notar que o nome Pai aparece 102 vezes, enquanto que nos sinópticos não chega a 50, se excluirmos os paralelos sinópticos. Jesus revela-se neste diálogo, mas também na intimidade das conversas pessoais como os discípulos e as outras pessoas, nos discursos e longas proclamações doutrinais, bem como nos "sinais" (milagres). As narrativas de "sinais"  são outra característica marcante deste Evangelho, juntamente com a utilização de linguagem figurativa e metafórica por Jesus. Todos estes elementos concorrem para conduzir os leitores à fé na divindade de Jesus.

 

Este Evangelho pode sintetizar-se no seguinte plano:

  • Prólogo: capítulo 1, do versículo 1 ao versículo 18
  • Mensagem de João Baptista: capítulo 1, do versículo 19 ao versículo 28
  • Sinais, diálogos e ensinos de Jesus: do capítulo 1, versículo 29 ao capítulo 12, versículo 50
  • Paixão e morte de Jesus: do capítulo 13 ao capítulo 19
  • Ressurreição e aparições de Jesus: do capítulo 20 ao capítulo 21