Evangelho Segundo Marcos

É uma edição caseira do conteúdo, fidedigno, do Evangelho Segundo Marcos,

pela tradução de João Ferreira de Almeida

 

 

Capa para o livro Marcos.pdf (236 kB)        O Evangelho Segundo Marcos.pdf (534,7 kB)
 

Introdução

Embora o autor deste Evangelho não se identifique, desde os tempos mais remotos da história e dos escritores da Igreja se considera ser João Marcos o seu autor, o qual se teria baseado nas memórias de Pedro. Marcos era um jovem de Jerusalém, sobrinho de Barnabé (Colossences 4.10). Participou na primeira viagem missionária deste último e de Paulo (Actos 13.1-13) tendo regressado a Jerusalém. Após a separação de Barnabé e de Paulo, juntou-se novamente áquele (Actos 15.37-39). O choque com Paulo foi motivado pelo regresso de Marcos a Jerusalém (Actos 13.13) o que no ponto de vista daquele (Actos 15.37) significaria um abandono da obra. Anos mais tarde, porém, (na primeira metade da década de 60), o parecer de Paulo relativamente a Marcos muda. Em Roma, durnate o tempo das prisões do apóstolo de Tarso, tornou-se seu útil colaborador (Colossences 4.10; Filémon 1.24; Timóteo 2.14).

Ainda jovem conhecera Pedro (Actos 12.2), com o qual desenvolveu uma relação de discipulado tão especial que o apóstolo lhe chama "meu filho na fé" (1 Pedro 5.13). Do que ouviu terá seleccionado e compilado alguns eventos, trabalho que resultou neste Evangelho. A respectiva composição situa-se, como se pensa, entre meados da década de 50 e meados da de 60, em Roma.

Este Evangelho tem como destinatários cristãos de origem gentia, habitantes de Roma, pouco ou nada conhecedores dos factos relativos à pessoa de Jesus e à sua vida, nem tão pouco da cultura e línguas do Médio Oriente. O propósito de Marcos teria sido pois o de pôr à disposição destes cristãos um relato abrangente e sintético de alguns factos marcantes da actividade de Jesus. De facto, o exótico de citações aramaicas e respectivas explicações - por exemplo: 3.17 "...Boanerges, isto é, Filho do Trovão"; 5.41 "...Talita Kum, que quer dizer: Levanta-te menina!"; 10.46 "...Bartimeu, filho de Timeu" - deixam perceber que os destinatários não eram de origam judaica.

Este Evangelho é conciso e eminentemente narrativo. Apresenta Jesus em contínua actividade. Dá maior ênfase aos seus actos do que às suas palavras, pondo em relevo a sua autoridade quer no chamamento de discípulos quer no ensino às multidões, e ainda na cura de doentes e expulsão de espíritos maus (1.14 - 8.30). A sua centralidade é o ministério do Senhor, não a sua vida. Por isso, omite, ao contrário dos demais evangelistas, quaisquer referências às suas genealogias e vida anterior ao início do ministério, principiando com o batismo por João no rio Jordão (1.9-11).

Jesus é, no início (1.1), apresentado como "Filho de Deus", mais tarde como o "Messias" (8.29). Ainda como "Filho de Deus", é reconhecido e honrado no climax do seu ministério - a crucificação - por um centurião romano (15.39). Entre os romanos era habitual a veneração de heróis humanos e semi-deuses, filhos de deuses, autores de admiráveis feitos e façanhas sobrenaturais. Ora Jesus aparece como único. É o Filho de Deus, mas é igualmente homem e o seu carácter único revela-se no seu acto supremo, um acto de servidão: o da sua morte na cruz e sequente ressurreição. Além disso, para Romanos, não seriam indiferentes as circunstâncias e significado social e moral dessa morte: a crucificação era uma cruel pena romana, destinada aos criminosos mais vis e aos escravos fujões. O reconhecimento peremptório da filiação divina de Jesus por um romano, no momento da sua morte, a juntar à crucificação, concorrem para causar impacto no público romano e para o conduzir a um mais forte e radical compromisso de fé com Jesus como o Filho de Deus e o Messias.

O Evangelho Segundo Marcos é o mais curto dos quatro Evangelhos e provavelmente o mais antigo. Mateus e Lucas conheciam-no e terão aproveitado muitas das suas informações.

 

Este Evangelho pode sintetizar-se no seguinte plano:

  • Introdução: capítulo 1, versículo 1
  • Mensagem de João Baptista: capítulo 1, do vesículo 2 ao versículo 8
  • Baptismo e tantação de Jesus: capítulo 1, do versículo 9 ao versículo 13
  • Actividade de Jesus na Galileia: do capítulo 1, versículo 14 ao capítulo 9, versículo 50
  • Viagem para Jerusalém: capítulo 10, versículo 1 ao versículo 52
  • Paixão, morte, ressurreição e ascensão de Jesus: do capítulo 11 ao capítulo 16